quinta-feira, 1 de setembro de 2011

PAPAI NOEL FUMANTE ???? (Os ‘Scripts’ do Marketing)


Já imaginaram, nos dias de hoje, algum tipo de marketing com a imagem de Papai Noel se acalmando com um cigarrinho? Ou ainda, com um bebê orgulhoso por saber que seu pai é fumante fiel de uma determinada marca de cigarro, que ele seguramente vai usar quando crescer?


Imagens incríveis sobre esse tema podem ser, literalmente, admiradas na exposição "Propagandas de cigarro - como a indústria do fumo enganou as pessoas" que está no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, a partir de segunda-feira, 29 de agosto, Dia Nacional de Combate ao Fumo ).

O objetivo é explicitar como a indústria do tabaco manipulou informações, utilizando falsas verdades para camuflar o fato de que seus produtos provocam graves problemas de saúde, como enfisema pulmonar e câncer (mais detalhes sobre a exposição no link : http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultimas-noticias/2011/08/29/sao-paulo-tem-exposicao-sobre-propagandas-enganosas-de-cigarros.jhtm).

Observem que o que nos parece óbvio HOJE EM DIA, há algum tempo atrás não era assim percebido. Já estamos todos muito bem informados sobre os malefícios do tabaco no organismo e no meio-ambiente. Desde às bitucas ou guimbas, à poluição atmosférica e até aos agrotóxicos nas plantações, entre outros danos. Portanto, o que torna essa exposição ainda mais interessante é justamente tornar evidente  a forma como mudamos e criamos opinião acerca dos fenômenos a nossa volta. São os denominados “agenciamentos de enunciação”, como diria Félix Guattari, em seu livro as Três Ecologias (1998).
Guattari (1998) sugere uma reinvenção dos modos de ser coletivos, numa tentativa de devolver à humanidade sua condição de ser integrado ao mundo, ao contrário da fragmentação e do isolamento que hoje nos é apresentado tanto pelo estilo de vida consumista quanto pelas teorias individualistas pós-modernas (a primazia do EU). Para isso apresenta a “ecosofia” como uma nova maneira do homem pensar sua relação com o meio ambiente, com sua sociedade e até mesmo com sua subjetividade (o si-mesmo). Ele nos estimula a questionar todas as esferas sociais, e a “reinventar maneiras de ser no seio do casal, da família, do contexto urbano, do trabalho, etc.”.

Por exemplo, qual a sensação de ver essas imagens após tantos  anos de informação antitabagista?  Muito foi aprendido desde aquela época, em função de tantas outras campanhas sobre os malefícios do cigarro. Reinventou-se toda uma lógica sobre a questão, não é mesmo?

Isso diz respeito à forma como certos valores  são engendrados subliminarmente em nossas mentes, para que sem nenhuma reflexão sejam cotidianamente reforçados em nossos conceitos e hábitos pessoais.  Isso também diz respeito à construção de nós-mesmos ou, ainda no linguajar ‘psi’, isso diz respeito, a grosso modo, à construção de subjetividades, que significa o sentido que damos ao nosso modo próprio de pensar e avaliar a nós mesmos e o mundo ao redor. Por isso que,  Guattari (1998) enfatiza que é de extrema importância para todos encarar os efeitos desta forma de controle social “no domínio da ecologia mental, no seio da vida cotidiana individual, doméstica, conjugal, de vizinhança, de criação e de ética pessoal”.

Não é a toa que já nos cartazes de época, entre os anos 40 e 60,   podem ser identificados vários elementos formadores de opinião coletiva (constructos sociais), os  quais ainda se mantém presentes nos ‘’agenciamentos’’  de subjetividades na atualidade e, talvez, com maior força. Como ‘agenciamentos’, entende-se a exaltação de modelos de comportamento  apresentados como ‘’ideais’’ para os indivíduos. Os ‘scripts’ que têm o apelo de garantir esforços desnecessários para a nossa existência ‘’feliz e saudável’’, dentro de um cotidiano conturbado, pouco acolhedor e doente:
  - magreza (aceitação e/ou atenção    
    social),
  - sedução (conquista e sexo),
  - poder (acesso e controle),
  - a sensação de bem-estar, uma das  
    características do uso (ou    abuso) de
    drogas (a felicidade).

Nestas mesmas mensagens publicitárias encontram-se subliminarmente  o receio de ser excluído dos benefícios sociais por trás dos ‘scripts’: ser gordo, ser deprimido, impotente, não encontrar aquele grande amor, o medo da solidão, a falta de sexo, a falta de atenção de outros humanos. Além de acentuar a rivalidade ou competitividade com o outro que possui produtos melhores que os seus (carros, roupas, eletrônicos, etc.), e/ou que tem o corpo ‘melhor’ e que, portanto, é mais ‘’feliz’’ do que você. Enfim, entre tantas outras possibilidades interpretativas reais, o que se vê nestes apelos publicitários são respostas  que dão conta da natureza humana. E, que existencialmente pensando, é a natureza do ‘não-saber’ antecipadamente as respostas necessárias para a existência própria, ao contrário das aranhas que já nascem sabendo tecer suas teias.

Como vimos, a Psicologia também atua na publicidade e no marketing. Ao que parece, tudo começou no início do século XX, com  John Watson (1878-1958), psicólogo americano fundador, em 1913,  da abordagem psicológica chamada de Behaviorista (Comportamentalista). Durante seu trabalho como pesquisador e professor de psicologia experimental na Universidade John Hopkins, em Baltimore, consolidou sua reputação  como um dos principais pesquisadores na área da psicologia animal. Desenvolvendo pesquisas em biologia, fisiologia e comportamento de animais e crianças, concluiu que o comportamento humano era sob muitos aspectos semelhante ao comportamento animal. No manifesto behaviorista,  publicado sob o título de “Psychology as the Behaviorist Views It” (“A Psicologia como os Behavioristas a vêem”, de 1923), Watson afirma: “O behaviorista, no seu emprenho de obter um esquema unitário da reação animal, não reconhece nenhuma linha divisória entre o homem e o animal”.
 Por isso, achava que  todo comportamento humano poderia ser compreendido em termos de estímulo e reação (por exemplo, estímulo ‘comida’ à resposta ‘salivação’). Alegando ainda que, ao contrário da psicologia introspectiva (que considera o estudo da mente humana), o behaviorismo permitiria aplicações práticas que afetariam positivamente a vida das pessoas, já que apresentava como objetivo de suas teorias  a previsão e o controle do comportamento humano.
O grande mérito conferido a Watson foi a junção do pensamento científico ao marketing. Pois, acabou por levar seu conhecimento de psicologia para a publicidade e o marketing, chegando a presidente da J. Walter Thompson, uma das maiores empresas de publicidade dos Estados Unidos. Lugar onde colocou em prática alguns de seus conceitos acerca das três emoções básicas do ser-humano: medo, raiva e amor. Por exemplo, numa campanha para a Johnson & Johnson, com o testemunho de médicos especialistas, a mensagem para os pais era a de que, se não usassem o talco deste fabricante, arriscavam-se a expor seus bebês a graves infecções.  Algo ainda muito comum nos nossos dias...


Dentro da premissa de que os seres-humanos podem ser condicionados a se comportar como qualquer outro animal, pode-se inferir que, as campanhas publicitárias se utilizam de valores e mensagens comprometidos com uma visão de  humanidade muito básica. Incompatível com as prerrogativas humanistas a que todos deveríamos estar submetidos para um desenvolvimento pessoal e coletivo inerente à mais ampla e irrestrita potencialidade humana.   Ao acentuar em nós a busca por recompensas fundadas em nossas necessidades animais (e primitivas ?!?!), esquecem-se  que para construir um ‘mundo melhor’, a humanidade necessita urgentemente de conteúdos que reforcem e enriqueçam a capacidade que temos  de interceder  no curso natural das coisas, fenômeno que nos distingue de qualquer outro animal.

Temos que estar atentos para o fato de que nada é veiculado ou ‘’agenciado’’ por acaso. Lembrem-se sempre disso. Observem vocês mesmos os conteúdos dos cartazes de propaganda de venda de cigarros e percebam as similaridades com as tantas mensagens que recebemos todos os dias.  E pense, será que realmente precisamos mesmo de tantos produtos  para fazer a vida acontecer?  Será que com tantas demandas do tipo “TEM QUE”, estaríamos mesmo nos recompensando? Adianta ter tantas coisas sem perspectiva de futuro para o planeta?  E quê mundo é esse em que vivemos?

Apesar das aparências, não estamos sós. Assim como precisamos encontrar respostas para quem somos, precisamos também de nos relacionar com tudo o que está no nosso entorno. Sozinhos, individualmente, podemos muito pouco. A lógica dominante se esforça por gerar o encantamento “no mundo da infância, do amor, da arte, bem como tudo o que é da ordem da angústia, da loucura, da dor , da morte, do sentimento de estar perdido no cosmos... “ (Guattari, 1998), anestesiando e neutralizando o potencial criativo de toda humanidade.  A existência por si só já se encontra carregada de tarefas difíceis. Escolhendo o mundo em que possamos viver menos inospitamente possível, estaremos verdadeiramente cuidando de nós mesmos e do todo a que pertencemos.  A fim de um ecologia humanista, social e ambiental, temos que trabalhar para a humanidade e não mais para um simples reequilíbrio permanente de um porvir ameaçador  e das suas lógicas doentias.
____________________________________________________
________________________________________________

NOTA:  Para entender melhor a questão da construção de subjetividades e a respectiva manipulação ou neutralização do poder crítico de cada indivíduo, assista ao vídeo vinculado à campanha “Pelo fim da publicidade às crianças” no site do Conselho Federal de Psicologia (CFP IN: http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/publicacoes/videos/videos_091212_002.html )
                                                                   

             
Psicólogos explicam os motivos da campanha do CFP 
a favor de nossas crianças                                   

Ou ainda, leia a publicação do Vaticano, que por séculos sugeriu que os recursos naturais disponibilizados por Deus seriam inesgotáveis, opinando sobre a gravidade dos conteúdos publicitários para a ecologia mental, ambiental e social:

 “A publicidade que encoraja um estilo de vida desregrado, desperdiçando os recursos e saqueando o meio ambiente, causa graves prejuízos à ecologia.  O homem, tomado mais pelo desejo do ter e do prazer, do que pelo de ser e de crescer, consome de maneira excessiva e desordenada os recursos da terra e da sua própria vida... Pensa que pode dispor arbitrariamente da terra, submetendo-a sem reservas à sua vontade, como se ela não possuísse uma forma própria e um destino anterior que Deus lhe deu, e que o homem pode, sim, desenvolver, mas não deve trair. Trata-se, sem dúvida, duma questão de vital importância: o progresso integral e autêntico da pessoa humana. A publicidade que limita o progresso humano à aquisição de bens materiais e encoraja um estilo de vida fastoso, exprime uma visão falsa e destruidora da pessoa humana, nefasta para os indivíduos e para a sociedade”.  (Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais – Ética da Publicidade, publicação feita pelo Vaticano em 22 de fevereiro de 1997, disponível na íntegra pelo link: http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/pccs/documents/rc_pc_pccs_doc_22021997_ethics-in-ad_po.html ).
  _______________________________________________
____________________________________________________


Fontes ou para saber mais:

- BENÍCIO, Mila. A Violência na Linguagem  Revista Garrafa, UFRJ (Letras), JUL-SET, 2007. Disponível em: < http://www.ciencialit.letras.ufrj.br/revista_garrafa14.html>.

- COBRA, Rubem Queiroz - Educação e Comportamento: Resumos Biográficos. Site   COBRA PAGES,  Brasília, 2003. Disponível em: http://www.cobra.pages.nom.br/ec-  watson.html.

- GOODWIN, C. James. História da Psicologia Moderna. São Paulo, SP: Ed. Cultrix, 2005.

- GUATTARI, Félix.  As três ecologias. Campinas, SP: Ed. Papirus, 1998.



segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Um espaço genial na Pompéia

"Mentes criativas são conhecidas por
sobreviverem a qualquer tipo de mau aprendizado." 
(Anna Freud)

Café e Ateliê Fazendo Arte
Rua Dr. Miranda de Azevedo, 691.
(Esquina com Cel. Melo)
Vila Pompéia - São Paulo
tel: 3868-1510
Saúde mental tem tudo a ver com 'criatividade', jogo de cintura, abertura para o compartilhamento emocional e espacial.  Seja para decisões importantes, no âmbito da sobrevivência material ou subjetiva,  seja para expansão de nossas possibilidades de contato com o mundo ou pelas formas com que nos expressamos nele.

Por tudo isso e ainda tantas outras variáveis possíveis, para que possamos desfrutar dos acontecimentos a nossa volta, como o deslumbramento das belezas materiais ou as emoções contidas nos relacionamentos com outros humanos,  precisamos estar em sintonia com nossas possibilidades critativas a fim de evitar as velhas respostas contaminadas de experiências passadas que não nos servem mais. (A questão das respostas cristalizadas ou a neurose, que em breve será discutida no Blog).

Pensando nessas possibilidades criativas, para facilitar nosso bem-estar no mundo com os outros e suas belezas, foi inaugurado na Pompéia, o Café Fazendo Arte. Idealizado pela artista plástica e arteterapeuta Eloísa Remédio, "com o objetivo de agregar o melhor da arte e cultura, o Café Fazendo Arte terá como objetivo incentivar saraus, bate-papos e o aprendizado da pintura e arte em geral em meio a degustação de cafés, vinhos e quitutes". 
Confiram no link:  http://cafefazendoarte.blogspot.com.

Enfim, espaço e ingredientes necessários ao acolhimento e conforto que nossa saúde mental merece... Cuidem-se bem!
Márcia Coutinho


quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Dietas com alto teor de gordura podem danificar células cerebrais



Atenção, aficionados por hambúrgueres com batatas-fritas, salgadinhos, massas, doces e sorvetes industrializados.

CUIDADO,
a obesidade ocasionada pelo uso  excessivo
desses produtos pode lesar seu cérebro !!!

Essa devia ser a chamada para os resultados encontrados na pesquisa sobre o consumo excessivo de gorduras da dieta típica do povo americano. Pode-se até pensar que, com o passar do tempo, nossos cérebros também se tornem  ‘’viciados’’ ao uso excessivo dessa ‘droga’.



Não são somente as já conhecidas drogas de adição, lícitas ou ilícitas, que podem causar danos ao cérebro, conforme visto no post sobre drogadição.  A aparente inocência da paixão por hamburgueres com porção de fritas  ou daqueles belos pastéis da feira, pode ser a causa da desorientação da capacidade autônoma do cérebro de controlar o peso corporal. Ao que parece, o dano na área específica para essa tarefa impede que obesos em tratamento dietético, consigam sucesso na manutenção da perda de peso.

O pesquisador não exemplifica quais os tipos de gordura estudados, apenas que são aquelas encontradas nas dietas típicas do povo americano. Ou seja, a dieta globalizada… Portanto, é essencial que, principalmente, adolescentes, ‘’viciados’’ neste tipo de alimentação,  aprendam a fazer melhores escolhas na hora de eleger um cardápio.
Nesta fase de descobertas o organismo necessita de muita energia para dar conta de todas as tarefas pertinentes a idade.  Um corpo pesado e debilitado (imaginem quando estamos gripados, por exemplo) pode levar a pensamentos de desvalia e incapacidade, diminuindo as chances de respostas e interação na própria realidade.

Aliás, para se manter em boa atividade, o corpo precisa de três nutrientes fundamentais: proteínas, carbohidratos e gorduras. Essas gorduras são aquelas encontradas nas castanhas, sementes e laticínios desnatados (low-fat), que proporcionam energia, auxiliam na reconstrução celular e produzem hormônios necessários à dinâmica do organismo. As gorduras a serem eliminadas ou limitadas ao máximo são as saturadas e as Trans, encontradas em alimentos como manteigas, laticínios integrais, carne vermelha e em produtos industrializados. Quando adquirir alimentos deste tipo, não deixe de verificar a tabela nutricional na embalagem para que os números apresentados comecem a fazer algum sentido na escolha nutricional. É uma questão também de conhecimento e hábito.

Um corpo pesado requer maior esforço de todo o organismo para o movimento, a ação, a auto-percepção de bem-estar, e, consequentemente, a  saúde integral do indivíduo (corpo e mente).  A princípio, a exigência desses gastos extras  de energia física podem representar aquela ‘depressãozinha’, o ‘desânimo’ ou a ‘falta de vontade’ para novas e possíveis conquistas existenciais. Pense nisso!

“Dietas com alto teor de gordura 
podem danificar células cerebrais”

Pessoas obesas e que possuem uma dieta com alto teor de gordura podem danificar neurônios (=células que formam o cérebro)  num setor chave do cérebro para o controle do peso corporal, pesquisadores americanos alertam.
Dr. Joshua Thaler e alguns colegas, do Centro de Excelência da Obesidade e Diabetes da Universidade de Washington, em Seattle, estudaram os os efeitos de uma dieta rica em gorduras nos cérebros de roedores a curto e longo prazo. Depois de oferecer a grupos de 6 a 10 ratos e camundongos uma dieta rica em gordura por períodos de 1 (um) a 8 (oito) meses, os pesquisadores elaboraram análises detalhadas dos cérebros desses animais, que incluíram imagens da bioquímica celular.
Os pesquisadores detectaram dano físico, e eventual perda, de neurônios essenciais para a regulação do peso corporal. Os roedores desenvolveram inflamação na parte do cérebro que contem os neurônios que controlam o peso corporal. O que pode ser resumido como uma lesão que leva a perda eventual de neurônios importantes na regulação do peso. “Ainda não é claro a se este presumível dano cerebral é permanente, mas com certeza contribui para o ganho de peso”, disse Galer.
"A possibilidade da lesão cerebral ser consequência do consumo exagerado de gorduras de uma dieta americana típica, oferece uma nova explicação para o porquê é tão difícil para a maioria dos indivíduos obesos não conseguir sustentar a perda de peso”, afirma Thaler.
Após os primeiros 3 (três) dias de consumo de alimentos gordurosos similares àqueles da dieta típica dos americanos, os ratos consumiram quase que o dobro da quantidade diária usual de calorias a que estavam habituados – e tanto os ratos como os camundongos alimentados pela dieta rica em gorduras ganharam peso durante todo o perído do estudo, diz Thaler.
E como essa descoberta pode ajudar no combate a obesidade? Dr. Thaler afirma que “Se conseguirmos desenvolver medicamentos para limitar esse prejuízo aos neurônios durante a exagerada alimentação de gorduras, pode ser   promissor e efetivo no combate a epidemia da obesidade,.
Essas descobertas estão sendo apresentadas no 93º Encontro Anual da Sociedade de Endocrinologia em Boston.


Para ler matérias na íntegra (em inglês):

- High-fat diet may injure brain cells. In: UPI - United Press International, Inc., Jun, 09. 2011. Disponível em:  http://www.upi.com/Health_News/2011/06/09/High-fat-diet-may-injure-brain-cells/UPI-43661307674382/#ixzz1Os4QEFND ;

- Dr. Joshua Thaler: ‘Eating High Fat Junk Diet May injure Neurons that Control Body Weight. Cure Talk. In: Conversations about New Treatments and Clinical Trials, Jun, 21. 2011. Disponível em:  http://trialx.com/curetalk/2011/06/joshua-thaler-eating-a-high-fat-diet-may-injure-the-brain-cell-rapidly-control-body-weight/;

- Healthy Dieting Myths and Facts. In: WebMD - Better Inormation. Better health. Aug, 2011. Disponível em: <http://www.webmd.com/diet/myths-vs-facts-10/slideshow-diet-myths>.


domingo, 7 de agosto de 2011

"SEM PENSAR"... E as consequências????


“Sem Pensar…  E as consequências?

Peça:  Sem Pensar
TUCA – Rua Monte Alegre, 1024 – Perdizes – São Paulo

Sextas e sábados, às 21h30 e domingos, às 19h até 02/10
Preço: De R$40 a R$ 60

Tel: (11) 3670-8455

Assisti à peça ‘Sem Pensar’ (Spur of the moment, titulo original em inglês que pode ser traduzido como “Impulso Repentino” ou ainda, fico pensando que pode-se  ter a dupla conotação de ‘of the moment’ como algo que está no repertório cotidiano sem nenhuma propriedade com aqueles que assim se comportam).
O espetáculo me deixou curiosa quanto a sua criação. A peça, que foi trazida da Inglaterra pelo cineasta Luiz Villaça, diretor desta montagem, foi escrita por uma jovem inglesa, Anya Reiss, de apenas 17 anos, e trata das relações familiares ‘’do momento’’.  Ou, o olhar de uma adolescente para as relações familiares que, muito possivelmente, permeiam o cotidiano de muita gente.
Segundo a atriz Denise Fraga, que de forma elegante e simpática recepcionava sua platéia a entrada do teatro, o que a fascinou nesse texto foi justamente o fato de “que ele fala da nossa cegueira cotidiana”. Acrescentando que “a gente, às vezes, almoça e janta com pessoas que a gente mal conhece que são nossos filhos e maridos. Pessoas que a gente ama, mas trata tão mal”.
Uma instituição em crise ou a crise da desumanização?
Antes de tudo, interessante salientar a universalidade da dinâmica familiar descrita pela jovem autora. Da referência a produtos de consumo globalizado, como algumas músicas ‘’teens’’, que não são do meu conhecimento para referenciá-las,   ou os filmes do Harry Potter, aos papéis sociais designados a cada gênero. Ou, como é ser  ‘papai’ e  ‘mamãe’, ou ainda, como é ser ‘marido’ e ‘esposa’, numa família de classe média inglesa convencional, a duras penas para se manter no conforto de seu “Lar’’. A origem inglesa da representação, em nada modifica a dimensão das relações e papéis  sociais apresentados na peça aqui no Brasil. Pode-se até mesmo inferir que ‘a cegueira’, a que Denise Fraga se refere, se trata da crise existencial da ‘sociedade-ocidental-patriarcal-capitalista-judaico-cristãdo momento.
Me parece óbvio que não se poderia esperar de uma menina de 17 anos, a autora do texto, um aprofundamento vivencial que desse sustância à apresentação. Porém, o que foi representado já dá pistas de que a vivência familiar, seja na Inglaterra ou no Brasil,  está mais do conformada às limitações do ‘’conforto’’ que a vida moderna oferece.  Será esse também um fenômeno da globalização? Ou melhor, quais são os benefícios  que tais padrões de comportamento trazem à sociedade e à humanidade? E ao desenvolvimento humano, pensando-se na necessidade de interação como fundamento básico para a existência? (Sem falar na questão ecológico-ambiental....).
No sentido de tentar encontrar uma resposta a estas questões (ou problematizar ainda mais) duas dinâmicas me chamaram a atenção. Primeiro, nas tentativas de resolução do conflito iminente do casal padrão (a traição do marido), pode-se constatar as angústias e aspirações individuais abafadas por esse tipo de relacionamento ou compromisso afetivo ‘modelo’. E, justamente na interação cotidiana do casal que se manifestam os comportamentos modelos que (in)viabilizam a convivência.
De um lado, o padrão de comportamento masculino, com a concepção de que a união conjugal e consequente  constituição de uma família, lhe garanta a primazia ‘’tribal’’. Um lugar onde sua participação se limita ao usufruto das instalações residenciais e da fêmea disponível, além da responsabilidade de garantir o sustento de todo o grupo. Do outro, o feminino, a instabilidade emocional, tipicamente histriônica, para o desempenho de todas as demandas restantes para a manutenção do ‘Lar’’, que lhe garanta a presença do masculino, a família modelo e o prêmio de mãe/esposa do ano: negociações emocionais com o marido e familiares, educação e orientação dos filhos, alimentação, organização da casa, limpeza, economia doméstica, etc..  
Em ambos os cônjuges, o convívio cotidiano parece estar comprometido à manutenção de idéias (ou ideais) padronizadas(os) e pouco, ou nenhum, espaço é dado para a interação humana entre as pessoas que escolheram viver juntas para sempre e sua prole. Tudo acontece como se o sonho da ‘família feliz’, se justificasse apenas pela atuação de papéis pré-estabelecidos em modelos de comportamento padronizados a cada gênero e faixa etária.
Esse foi meu susto, o velho modelo de ‘papai-e-mamãe’ em versão globalizada. Provavelmente ‘adquirido’  nas belas imagens de histórias familiares contadas nas revistas femininas e/ou em outros meios de divulgação, ainda contaminados pela dominação patriarcal, como na imagem e nos produtos associados ao conforto a que todos merecem. (Não é à toa que a ONU passou a considerar oficialmente a FELICIDADE como uma ferramenta para o desenvolvimento dos países, veja a notícia completa em  http://www.folhadaregiao.com.br/Materia.php?id=281604 ).
O esforço por encarnarem e desfrutarem de papéis ou ‘scripts’ pré-estabelecidos de convivência, faz com que a angústia individual desses personagens funcionem como empecilhos para o contato verdadeiro e possível entre eles, limitando-os à interação com as ‘coisas’ (inclusive seus modelos de papéis) e não com as pessoas. Cegueira absoluta para a essência do ser e de SER. Um relacionamento EU-Isso, lembrando de Bubber, em detrimento do EU-TU (sobre Martin Bubber vide post “Ciúme, o contrário do amor” no link  http://psicolharizando.blogspot.com/2011/07/ciume-o-contrario-do-amor.html).
Outro fato que me chamou a atenção foi a de que tudo isso transcorre em pleno século XXI, a despeito de todos os ‘’avanços’’ sociais, científicos e culturais da humanidade: a emancipação da mulher, a liberação sexual, a inserção do masculino nas relações familiares, a inserção da mulher no mercado de trabalho, a igualdade de direitos, a livre expressão das individualidades,  os direitos humanos, os direitos da infância e dos adolescentes, os direitos trabalhistas, a preocupação ecológica, a denúncia de ‘bullyings’, a criminalização do preconceito racial, entre tantas denúncias e estatutos protecionistas). Será que avançamos mesmo? Enquanto o núcleo familiar se mantiver impregnado de concepções estereotipadas e insensíveis às necessidades humanas de seus próprios membros, a que tipo de progresso estamos submetendo nossos entes queridos e a história da nossa civilização?
Leonardo Boff, se referindo à ‘relação de reciprocidade’ possível no encontro entre o masculino e o feminino, lembra que em sua essência humana, “embora diferentes, homem e mulher se encontram no mesmo patamar humano, e vivem, A PARTIR DAÍ , o seu cara a cara”  (2002). A distorção a que estamos acostumados, seria uma má interpretação da diferença entre os gêneros, que serviu para subordinar a mulher ao homem, coisificando-a como um dos bens que ele possui, e ainda, excluindo-a da visibilidade social. Onde predominam relações dissimétricas, injustas e desumanizadoras para AMBAS as partes (Filmes indicados: “Que fiz eu para merecer isto?”,de 1984, e o também inglês, “Shirley Valentine”, de 1989).
Desde o nascimento é no núcleo familiar que somos apresentados ao MUNDO que se desdobra além do círculo de conforto que nos cerca. A Psicologia sabe da relevância da “modelagem social’’ (A. Bandura)  no comportamento humano. Em sua teoria cognitivo-comportamental, Bandura (1977) afirma: "O aprendizado seria excessivamente trabalhoso, para não mencionar perigoso, se as pessoas dependessem somente dos efeitos de suas próprias ações para informá-las sobre o que fazer. Por sorte, a maior parte do comportamento humano é aprendido pela observação através da modelagem. Pela observação dos outros, uma pessoa forma uma idéia de como novos comportamentos são executados e, em ocasiões posteriores, esta informação codificada serve como um guia para a ação." (p22).  Por mais que exista a possibilidade a novos comportamentos, sabe-se a relevância desses  ‘modelos’  quando ainda adornados de glamour e conforto. Após anos de educação para o consumo desenfreado (Sem Pensar) em detrimento da lógica de bem-estar e desenvolvimento da humanidade, nascida dos ideais das conquistas científicas e tecnológicas. Outra ferramenta de dominação do patriarcado. (Talvez seja por isso que tantas normas de comportamento  sejam pensadas e escritas para fazer valer o direito e a responsabilidade de todo SER-humano consigo mesmo, com os outros e com o mundo ).
Porém, sob o olhar psicológico fenomenológico-existencial, sabemos que mesmo quando nós ‘escolhemos’ modelos de comportamento pré-estabelecidos para responder às nossas necessidades na vida, são necessárias ponderações existenciais. Se apenas escolhemos repetir padrões sem a devida reflexão e a participação de quem somos (‘Sem Pensar’), na verdade estaríamos escolhendo não-existir e não-SER para as nossas possibilidades, acrescentando mais angústia a existência, cegando-nos à nossa potencialidade criativa e, consequentemente, limitando-nos a atuação na realidade..
O contrário disso seria o ‘’ideal’’ mais próximo a que podemos chegar,  para viver com autonomia e interatividade, e que, apesar de e por causa de  todas as dificuldades (não é tarefa fácil mesmo!) nos traz a sensação de integridade, bem-estar ou felicidade que nenhum decreto, estatuto, aquisição de produtos ou normatização de comportamento nos garantirá. Ou, conforme Boff (2002) ‘independência e identidade’ para o cuidado de nós mesmos e das relações que enriquecem a  existência
“Sem Pensar’, é uma dica de espetáculo com traços cômicos, num tipo de BBB familiar em linguagem teatral, onde podemos ‘espiar’ o que acontece dentro das famílias, que exalam perfeição, e a forma com que se dão os relacionamentos ‘do momento’, conforme  visão de uma jovem adolescente de 17 anos. Conflitos e angústia humanos no esforço para manutenção e imposição de papéis, que nos deixam pensando sobre o porquê viver ‘sem pensar’, se as consequências são evidentes.
Talvez, esse seja o motivo do riso ‘nervoso’ de alguns espectadores:  sem pensar e sem se responsabilizar pelas consequências. Afinal, nesta lógica podemos nos colocar como vítimas da existência, que nos ‘’obriga’’ a fazer escolhas impensadas, que ‘sempre foram assim”...  Até quando?
Aproprie-se de suas escolhas, cuide-se BEM!!!!


Para saber mais:

- BOFF, L., Muraro. R.M. Feminino e Masculino – uma nova consciência pra o encontro
       das diferenças. Rio de Janeiro: Sextante, 2002.

- BUBER, Martin. Eu e Tu. 8.ed. São Paulo: Centauro, 2004.

- Ziglio, A. “Sem Pensar: risos e muita reflexão”.  Reportagem IG Cultura, 2011.  Disponível em http://colunistas.ig.com.br/monadorf/2011/07/22/sem-pensar-risos-e-muita-reflexao/

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Meu filho, você não merece nada




Meu filho, você não merece nada
A crença de que a felicidade é um direito tem tornado despreparada a geração mais preparada




http://revistaepoca.globo.com/EditoraGlobo2/Materia/exibir.ssp?materiaId=247981&secaoId=15230
Simplesmente genial a articulação do conteúdo pesquisado para a matéria publicada pela jornalista Eliane Brum, na Revista Época, de 11/07/2011.
A experiência clínica e o olhar ''psi'' sobre os fenômenos ao redor, observados nas diversas queixas de adolescentes e jovens adultos, têm me apontado para essa mesma dinâmica reconhecida pela jornalista, e que eu me habituei a chamar  de 'inteligência incapacitante'. Indivíduos jovens, de raciocínio rápido e fluente, oriundos da classe média tradicional, com uma rica bagagem intelectual e cultural,  para quem muitas vezes as limitações emocionais pessoais soam como fracassos, deméritos, ao invés de simples falta de experiência no embate com a vida real. Pois, não sabem o que fazer para continuarem obtendo do mundo o mesmo ''sucesso'' que encontraram no núcleo familiar, bancos escolares e universitários. Suponho que a faixa etária destes jovens vá  até algo em torno dos 25 anos e cujas características e conflitos existenciais típicos se encaixam  àqueles apresentados pela autora da matéria. Salvo algumas variáveis próprias de histórico pessoal.
Imperdível a leitura deste texto para a compreensão da dinâmica psicológica, que se constrói na realidade dada (mundo conhecido, familiar) como única e absoluta, a despeito de todo 'psicologuês' voltado para o entendimento da subjetividade como entidade que acontece apartada da realidade experienciada, como aquele das teorias universais acerca do Homem. Parecido com o que já comentei sobre a possibilidade de um jovem de uma tribo de pastores africanos , por exemplo, se projetar no futuro como um físico ou astronauta (vide post "Adolescer'' na página sobre adolescentes neste blog). O mesmo acontece com esses jovens de nosso grupamento social que conhecem o mundo pronto para usar. E, desfrutar, é claro!.
Quero dizer, é visível a falta de conexão desta parcela da juventude com o fazer cotidiano e as implicações deste fazer para o desenvolvimento pessoal rumo ao futuro ''programado'', como se as coisas do mundo que vêm ao encontro deles, já tivessem que estar prontas para o simples desfrute deles. Meio aquela sensação de '' é só abrir a embalagem e pronto! '' Não reconhecendo a possibilidade do atrito com a realidade como experiências  que irão se constituir como outras manifestações de sua existência no mundo. Reagem impulsivamene quando 'a mercadoria' demanda alguma elaboração a mais, pois o ''trabalho'' decorrente é percebido como perda de tempo. Ou ainda, como uma imensa frustração do tipo consumidor enganado.
Mãos na massa, pessoal !!!
Não existem 'brinquedos'  que garantam
prazer, felicidade
e bem-estar depois dos 10/12 anos. 
Tenho pensado muito no assunto e acredito, a princípio, que o hábito de terem recebido desde o nascimento todos os itens necessários para o seu prazer, como se estes existissem somente para agraciá-los, faz com que nem se percebam ''atrofiados'' para gerarem em si mesmos as respostas que, como pais (e simples humanos), não conseguimos mais maquiar ou formular.
Afinal, assim como diz a jornalista, e assim como a psicologia existencial postula, a cada um cabe a responsabilidade de fazer escolhas por si mesmos, tateando o emaranhado de sentidos do mundo a conformação de sua autenticidade. Para isso, há que se ter criatividade, auto-conhecimento e auto-regulação (ou, no popular, jogo de cintura) para fazerem as coisas acontecerem e para que, ao mesmo tempo, aconteçam  e existam no mundo. Ou seja, não podemos poupar nossos filhos da humanidade inerente a existência deles. Se fazer é tarefa de todos.
Ou, como disse a amiga que me indicou essa matéria: "Choque de realidade neles!!!" Para que consigamos acordar deste sonho tão irreal  e  fazer a vida acontecer com as pessoas e coisas que estão aí, a nossa volta.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Em respeito a todos os ‘Amys’ e a nós mesmos...


Levei um susto quando vi a pequena nota publicada na internet no último sábado sobre a ainda possível morte de Amy Winehouse em sua casa. Mesmo não sendo uma fã, ou nem mesmo sabendo decor qualquer uma das suas canções, fiquei abalada. Pensando no fim prematuro e trágico de uma existência que parecia tão profícua, em função de escolhas das quais nem sempre alguém consegue se resgatar,  respeitosamente, lembrei de Keleman ( Viver o seu morrer, 1997): “Morremos o melhor que podemos; morremos a morte que tem a ver com a doença da qual sofremos...”. Assim, me dei conta que meu abalo também se justificava pela constatação do que já estava há algum tempo previsto e comunicado.  
Tentando compreender suas mensagens (letras) mais diretivamente[1],  percebi  a forma como abertamente escancarava sua condição desesperada de encontrar algum sentido para sua existência, usando palavras ‘cruas’, francas e rudes, para amplificar seu desamparo. O produtor de algumas faixas de Back to Black, Mark Ronson, afirmou numa entrevista que Amy é brutalmente honesta em suas canções, lhe chamando a atenção para o fato de  que “há muito tempo ninguém no mundo pop aparece contando seus defeitos, porque todo mundo vem tentando de tudo para demonstrar perfeição”, justificando tal atitude pelo fato de  Amy não ser obcecada por si mesma e nem  correr atrás da fama, pela sorte de ser tão talentosa.  Porém, finaliza dizendo o que se tenta compreender agora: “Parece sempre zangada, entediada ou provavelmente viva de ressaca”. (Texto na íntegra em: http://lfigueiredo.wordpress.com/2011/07/30/amy-winehouse-a-diva-e-seus-demonios/).


A 'amplificação do desamparo', também se escancarava pelo seu corpo e por seu comportamento abertamente compulsivo por bebidas, drogas, relacionamentos, diversão, tornando-se algumas vezes agressivo, até mesmo contra seus próprios fãs durante suas apresentações.  Pela perspectiva de sua ‘doença’, essa  demonstração agressiva, talvez também estivesse  escancarando   a falta de contentamento com toda aquela adoração distanciada e pouco acolhedora, para o que realmente buscava e necessitava: ser cuidada.
Uma vez, ao ser entrevistada em sua turnê pelos EUA, foi perguntada sobre o que ela imaginaria ser seu pior defeito, e respondeu: “Basicamente, sou muito negligente, sempre jogo a precaução pela janela”. E quando a conversa desvia para como Amy saberia se está na hora de cuidar de algum de seus defeitos, ela transfere a pergunta para Blake, seu marido, reforçando a 'negligência' para consigo mesma: “Baby, se eu tivesse um defeito, quando saberia que está na hora de parar e cuidar dele?”  
Outra marca repetitiva de suas canções: a necessidade de encontrar alguém para cuidar dela; pois, sabia que sozinha não daria conta de ‘si-mesma’. A mais fundamental de todas as limitações do existir  humano, já que o CUIDAR-DE-SI é prerrogativa para existência física e existencial. Visível a fragilidade deste SER, provavelmente, ainda mais deteriorado pelo abuso constante de drogas.
Em muitas de suas letras,  apresentou mais do que pistas sobre a incapacidade de fazer escolhas compatíveis com a força criativa que carregava em si. Criatividade que, por falta de ‘cuidados’ a si mesma e por parte de outros com quem podia contar, acabou por extinguir sua própria existência:
“(…)
Tentaram me mandar pra reabilitação
Eu disse "não, não, não"
É, eu estive meio caída, mas quando eu voltar
Vocês vão saber, saber, saber
Eu não quero beber nunca mais
Eu só oh, só preciso de um amigo
Não vou desperdiçar dez semanas
Pra todo mundo pensar que estou me recuperando
Não é só meu orgulho
É só até essas lágrimas secarem 
(…)”

Seu desamparo foi também marca do seu fim.  Mais uma vez lembro de Keleman (1997) se referindo ao desamparo como a dor básica da vida de todos NÓS, afirmando que “à medida que nos descobrimos incapazes de responder a nós mesmos, a dor aumenta progressivamente e nos submerge, (...)”.  Me alivia pensar que, qualquer que seja o outro lado - se não houver nada ou se houver outro mundo - ela vai encontrar a PAZ!
Ainda mais abalada fiquei hoje, quando ao buscar por esclarecimentos a cerca de sua morte, fui dar uma olhada nos comentários deixados por outros leitores a respeito do assunto, como faço habitualmente. Lamentavelmente, o que observei foi que aqueles que não se identificaram como fãs,  tecem uma série de considerações maldosas e prepotentes, às vezes até com brincadeiras repugnantes, sobre o desfecho trágico de  uma  vida ainda em formação.  Talentosa, criativa, sensível, bonita, rica, com sucesso e acesso a qualquer sonho materialmente possível, mas, que no âmago 'duplamente doente' de sua existência. 'Duplamente doente', porque além da falta de cuidado consigo mesma, penso na dependência química (drogadição ao álcool ou outras drogas ilícitas), reforçadora automática do alívio de suas ‘’carências e dores’’ que, muito provavelmente, deixou marcas profundas e limitantes em seu cérebro.
Percebo como óbvio que todos os que adicionaram comentários amargos e grosseiros, o fizeram a fim de  minimizar disfarçadamente o seu próprio desamparo, já que, como humanos, sofrem das mesmas dores da existência (angústia, busca de sentido, acolhimento), porém, ainda mais 'enfurecidos' por Amy ter desperdiçado  tudo o que acreditam que os aliviaria da dor e do esforço existencial para lidar com a VIDA. E além disso, deixam transparecer sua ignorância sobre os problemas relacionados à drogadição. Vejam alguns exemplos de comentários:

“(...)Na certa, não merecia a fama que teve, pois não era alguém forte para saber lidar com isso, e logo caiu no mundo das drogas e bebidas. DÓ? Imagina, ela era adulta e sabia o q estava fazendo, e com certeza as consequências, mais do que expostas por outros músicos famosos que morreram em razão de drogas e bebidas. Já foi tarde! E que as pessoas consigam ídolos melhores, com bons exemplos de vida!”

Ou ainda:

“(…)Vamos parar de fazer apologia a essas pessoas que não servem de modelo de vida. (…)”.

Desculpem se precisei reproduzir esses comentários. Uma das intenções  era a de deixar  explícita a dimensão da ‘’praga emocional da humanidade”. O sentimento mais destruidor das relações humanas, uma compreensão acerca da existência limitada às próprias frustrações e limitações.  Basta observar que nos dois comentários existe referência  a exemplos ou modelos de vida, como se eles mesmos não estivessem lá muito satisfeitos com os exemplos que seguem e estivessem em busca de melhores opções, principalmente, para que não precisem eles mesmos fazerem suas próprias escolhas.  

Seja como for o escopo da dor (ou da ‘doença’) que carregam,  aliado a isso está também a falta de informação sobre a drogadição. Por trás de alguns comentários, existem crenças ou mitos  os quais, atualmente,  já foram esclarecidos por conta das novas tecnologias de imagem e estudos neurocientíficos a cerca do porquê de alguns indivíduos ‘adoecerem’ e perecerem com o (ab)uso de drogas.  Compartilhar estas informações é a outra intenção deste post, a fim de requerer algum respeito àqueles que, como Amy, sofrem  ou sofriam  com este mal.
Sabe-se hoje que, o consumo repetitivo de drogas prejudica o cérebro causando alterações de longa duração em seu funcionamento e, inclusive,  em sua forma (estrutura física,  ou como popularmente se conhece, nos “miolos”).  Estas alterações cerebrais interferem com a habilidade do usuário de drogas pensar lucidamente, de  fazer julgamentos criteriosos, de controlar o comportamento, e de se sentir normal sem o uso da droga.  Estas alterações também são responsáveis, em grande parte, pelas crises de abstinência (mal-estar físico e emocional causado pela falta da droga) e, consequentemente, pela compulsão para o uso, o que faz do vício tão poderoso. Para não sentir os fortíssimos efeitos da abstinência, o cérebro do usuário, ‘’acostumado’’ ao consumo, envia informações persistentes e cada vez mais desconfortáveis em função do consumo da droga. Somente para efeito de comparação, seria algo parecido com o que percebemos e sentimos quando ficamos sem comer por muito tempo (falta de açúcar ou glicose).
Num primeiro momento, a dependência química se estabelece  em conformidade com o Sistema de Recompensa do Sistema Nervoso Central. No sistema límbico (área relacionada ao comportamento emocional, parte mais antiga do cérebro, localizada abaixo do néo-cortex), acha-se uma área relacionada à sensação de prazer, chamada circuito de recompensa cerebral. Estudos com animais demonstram que estímulos elétricos nestas regiões provocam sensações de prazer e levam as repetidas tentativas de estimulação. Todas as drogas de abuso, direta ou indiretamente, atuam no circuito de recompensa cerebral, podendo levar o usuário a buscar repetidamente essa sensação de prazer.
A doença da dependência química,  seja ela psíquica ou física, é causada pela necessidade que muitas pessoas têm de escapar do desconforto físico e/ou emocional. É muito provável que alguém comece a beber para entorpecer sentimentos depressivos ou se mostrar muito ‘social’,  por exemplo, mas, enquanto as drogas trazem sensações agradáveis num curto espaço de tempo, essas tentativas de ‘automedicação’ acabam por se tornar tiros pela culatra. Pois, buscam alívio rápido ao invés de tratarem dos sintomas subjacentes, e assim, mascaram a verdadeira causa da busca por drogas. Quero dizer, se a droga for retirada, o problema ainda estará lá, seja por baixa autoestima, ansiedade, solidão ou uma vida familiar infeliz.
Além disso, o uso prolongado de drogas traz eventualmente seus próprios problemas ‘’hospedeiros’’, incluindo-se aí grave ruptura com o funcionamento cotidiano, com danosas consequências psicológicas, físicas e sociais. Acrescentando ainda mais desconforto para o dependente, além daquele(s) que se evitava lidar. Enfim, a potência criativa inicial, com o abuso constante de drogas,  vai se transformando em cada vez mais fragilidade e incapacidade para encarregarem-se da difícil tarefa de construírem a si próprios e ao mundo, conforme suas possibilidades, simplesmente humana. Ou, demasiadamente humana, parafraseando um filósofo alemão.

Apesar de toda ‘’força’’ do vício existem indícios no avanço científico e metodológico no  tratamento de dependentes químicos. Por exemplo, no Brasil, são comunicados índices que variam de 30 a 60% na recuperação de pacientes, dependendo do estabelecimento de saúde e abordagens adotadas no tratamento. E para que essas estatísticas continuem aumentando, conforme levantamento publicado num site americano voltado para o abuso de drogas, existem mitos sociais que funcionam como empecilho a novas reflexões e atitudes no encaminhamento, manejo e  recuperação de dependentes químicos, que devem ser reconsideradas:

Mito 1: Vencer a dependência ou o vício é simplesmente uma questão de força de vontade. Pode-se parar de usar drogas se assim o usuário realmente desejar.
- Uma exposição prolongada às drogas altera o cérebro estrutural e funcionalmente, o que resulta em poderosa necessidade e compulsão para o uso. Estas mudanças cerebrais tornam o abandono do comportamento de se drogar extremamente difícil por força de vontade ou mudança de perspectiva.

MITO 2: O vício é uma doença e não há nada que se possa fazer sobre isso.
- Muitos especialista concordam que o vício é uma doença cerebral, mas isso não significa que o usuário é uma vítima sem esperança.  As mudanças no cérebro associadas ao vício podem ser tratadas e revertidas por meio de terapia, medicação, exercícios e outros tratamentos complementares.


MITO 3: Os dependentes de drogas têm que chegar ao fundo do poço antes que eles consigam alguma melhora.
- A recuperação pode ser iniciada a qualquer momento no processo de adição. No entanto, o quanto mais cedo melhor. Quanto maior for o tempo do abuso de drogas, mais fortemente   a doença se instala e mais difícil será o tratamento. Não espere que o dependente perca tudo para intervir no processo de adoecimento.

MITO 4: Não se pode forçar o tratamento a alguém. Eles devem querer ajuda.
- O tratamento não precisa ser voluntário para ser bem sucedido. Pessoas que são pressionadas a se tratar por seus familiares, empregadores ou outras instituições estão propensas a se beneficiarem tanto quanto aqueles que escolheram  iniciar o tratamento por sua própria conta. Quando eles conseguem ficar sóbrios e seus pensamentos se tornam lúcidos, muitos daqueles que resistiam ao tratamento decidem que querem mudar.
MITO 5: O tratamento não funcionou antes, portanto, não há motivo de se tentar mais uma vez, alguns casos são perdidos.  
- A recuperação da dependência em drogas é um longo processo que frequentemente envolve algum retrocesso. Recaída não significa que o tratamento falhou ou que o caso é uma causa perdida. Melhor pensar que isto é um sinal para se retomar o caminho, ou para retornar ao tratamento ou para ajustá-lo a uma outra abordagem.

Assim como muitas outras condições e doenças, a vulnerabilidade ao vício difere de pessoa para pessoa. O que se supõe, hoje em dia, é que uma pessoa pode se tornar  dependente química para qualquer droga em função de seus genes; da idade que iniciou o consumo; e de seu meio-ambiente familiar e social.  Sendo que nenhum fator isoladamente determina se o indivíduo virá a ser ou não um dependente químico, existem muitos casos de resilientes em meios sociais totalmente desfavoráveis. No geral, são os seguintes os fatores de risco apontados como ‘fenômenos’ que aumentam a vulnerabilidade à dependência química de um indivíduo exposto ao consumo de drogas:

- Histórico familiar para vícios;
- Abuso, negligência ou outras experiências traumáticas na infância;
- Transtornos emocionais,  como  aqueles causados por  depressão e ansiedade;
- Precocidade no uso de drogas.

A explicação da neurociência é que, diante de certos comportamentos ou consumo excessivo de uma substância, o sistema de recompensa é ativado ao extremo e, por proteção, acaba se dessensibilizando. Fazendo uma comparação bem simples, é o mesmo  que ocorre com o elástico esticado além do limite e que não volta mais ao normal.
Importante salientar que quase todas as drogas têm o potencial para o vício e o abuso, da cafeína aos medicamentos prescritos pelo médico, dos drinks ocasionais, do cigarro, às drogas ilícitas, as quais ainda fomentam a violência urbana - desde a corrupção policial  ao assalto ou latrocínio em qualquer sinal de trânsito da cidade.
"O fenômeno de dependência de drogas é algo que se prende à condição humana com diversas finalidades, desde a de apaziguar as dores, as angústias, as tristezas, até o de elevar aos deuses", escrevem os psiquiatras Antônio Pacheco Palha e João Romildo Bueno no prefácio do livro "Dependência de Drogas", que compila textos de 54 especialistas no assunto. "Assim sendo", continuam eles, "é natural que, enquanto houver dor, angústia, frustração, abatimento e dúvidas o homem irá continuar o uso de drogas ". Portanto, quem na sua existência consegue passar pela proeza de não sofrer qualquer tipo de ‘trauma na infância’ , assim como, não sofrer frustrações e/ou excitações (depressão e/ou ansiedade) que causem alguma distorção no funcionamento ‘normal’ cotidiano, mesmo que ocasionalmente, frente a tantas variáveis e dificuldades existenciais ?  
É sobre isso que cantam Marisa Monte e Arnaldo Antunes no vídeo abaixo.





E assim, pensando de novo  nos comentários maldosos sobre a morte de Amy Winehouse, no paradeiro desses e na morte (finitude), a que todos estamos sujeitos a qualquer momento, em nossa condição de desamparo (o não-saber),  fenomenologicamente se pode dizer que somos todos dependentes de  sentidos para aliviar as nossas aflições. É claro que muito frequentemente somos ‘’vítimas’’ de distrações menos  ou mais lentamente destrutivas – comida, doces, chocolate, sexo, jogo, compras, etc. –, as quais nos desviam  daquilo que somos e podemos na construção de realidades verdadeiramente recompensadoras.
Filme: Requiem para um sonho" (2000) .
          Uma visão frenética, perturbada e única sobre pessoas
que vivem em desespero e ao mesmo
 tempo cheio de sonhos. 
Como em qualquer outro animal, a busca pelo prazer nos move e, por isso,  é fomentada cotidianamente pelos meios de comunicação. Tendemos a repetir ações agradáveis e às vezes é nesse prazer que encontramos uma forma de fugir das dificuldades. O problema é quando o "gostar muito" se transforma em dependência, e o prazer se transforma em dor.
Conforme Keleman (1997): “Quando nos levamos a sério, somos diretamente arremessados para a vida e para uma nova realidade do nosso róprio morrer”.  Temos sim é que estar atentos ao potencial criativo que carregamos, para que encontremos respostas mais construtivas e consistentes com nossa humanidade,  sem nos deixar levar por emoções distorcidas, como o desprezo ao sofrimento alheio.  
Portanto, a fim de que haja alguma coerência nas atitudes das pessoas que se queixam por não terem melhores modelos de vida para se espelharem, espera-se que  por meio da empatia ou compaixão pela condição humana (deles também!), conquistem novos potenciais para existir e transmitir melhores exemplos de convivência para seus filhos, parentes, amigos próximos, vizinhos, colegas de trabalho, ou ainda, para leitores de comentários da web.


Para saber mais:

- Keleman, S.. Viver o seu morrer. São Paulo: Summus, 1997.

- “Do Prazer à dor”, Revista Galileu, Especial nº 3. Agosto/2003. Disponível em: http://reformapsiquiatrica.wordpress.com/2010/08/08/do-prazer-a-dor/

- “Drugs and the Brain”, National Insitute on Drug Abuse (NIDA) – The Science of Drug Abuse & Addiction. EUA.  Disponível em: http://drugabuse.gov/scienceofaddiction/brain.html;

- “Drug Abuse and Addiction, signs, symptoms and help for drug problems and substance abuse” – HELPGUIDE.org, A Trusted non-Profit Resource. EUA. Disponível em: http://helpguide.org/mental/drug_substance_abuse_addiction_signs_effects_treatment.htm

- “Tratamento e Reabilitação”, Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas (UNIAD) – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Brasil. Disponível em: http://www.uniad.org.br/

[1] Encontrei 131 canções, algumas disponibilizadas também em português,  em http://letras.terra.com.br/amy-winehouse/ .