Adolescência

Temas relacionados à adolescência: sexualidade, identificação com grupos de iguais, relacionamentos amorosos, descoberta do corpo, conscientização sobre o futuro, ruptura com o núcleo familiar, entre tantos outros.
Também serão aceitas contribuições dos leitores: histórias, comentários, relatos, dúvidas e questões... Participe!!!


ADOLESCER' = Hormônios + Neurônios  + Histórico 
pessoal  +  Cultura + Ambiente Social + ....

“Saúde não é a ausência de danos. Saúde é a força de viver com esses danos. 
Saúde é acolher, amar a vida assim como ela se apresenta, 
alegre e trabalhosa, saudável e doentia, limitada e aberta ao ilimitado 
que virá além da morte. O que significa cuidar do corpo”
Livro: “Saber Cuidar”, Leonardo Boff (1999)

É importante sabermos que cada cultura possui seu próprio conceito de adolescência,  baseando-se sempre em diferentes idades para definir este período. No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) define esta fase como característica dos 13 aos 18 anos de idade, porém para a Organização Mundial da Saúde (OMS) o período fica entre 10 e 19 anos de idade. 
Essas informações acentuam a diversidade e a pluralidade do ser-humano no mundo, já que se pensarmos em jovens indígenas, africanos, pigmeus, etc, de grupamentos humanos ainda isolados ou não incluídos no processo de globalização, por exemplo, não os associaremos a bandas de rock ou bailes funk ou a qualquer 'modismo' (=agenciamento) conhecido, não é verdade?
Portanto, pensar a ‘adolescência’, assim como nos é apresentada pelos modelos de comportamento acentuados pela mídia (filmes, novelas, reportagens, etc.), é um equívoco. Esta visão é apenas uma generalização grosseira focada em estereótipos comportamentais cada vez mais encrudescidos e distanciados das possibilidades criativas do ser-humano. Além disso, pensando ainda nos jovens de grupamentos sociais diferentes mundo afora, há que se notar que os conceitos (ou pré-conceitos) que permeiam o cotidiano de qualquer nação ou tribo, buscam dar sentido às possibilidades de existência permitidas e validadas dentro daquela rede social (o mundo descoberto). Ou seja, será que existem jovens nômades do Tibet, do Sahara, ou mesmo fixados em aldeias na floresta tropical, que têm por perspectiva futura se tornarem Físicos ou Matemáticos ou Astronautas??? Ciências exatas e viagens espaciais não estão nos repertórios de vida desses grupamentos sociais.
Digo isso para que pensemos muito nas possibilidades criativas e interativas dos seres humanos, que não deixam de dar conta de sua sobrevivência seja em qualquer lugar, por mais inóspito que seja. Então, porque limitá-los a acreditar numa pequena parcela do todo possível??? Porque as mídias não se preocupam em aumentar as possibilidades de repertório e modelos de existência, propulsionando o pensamento livre e a reflexão ??? 
Existem muitas respostas para isso, porém, o fundamental é que a família (e os pais, principalmente) façam e se permitam esse papel ‘fomentador’, ‘posibilitador’. Àqueles educadores focados na qualidade e na veracidade da informação compartilhada em concordância com suas regras e valores pessoais, isso é possível. Difícil vai ser quando o educador só se preocupar com as aparências e os ‘costumes’ que mal servem para dar conta das próprias vidas. O que dirá das novas que estão embrionando???? Um jovem, habituado desde a infância a ouvir dos pais, da educação que recebe em casa, informações sobre a realidade que lhe causem boa impressão sobre a 'veracidade' (=coerência, sentido) do que está sendo descrito, aprenderá desde muito cedo a confiar em seus educadores.  Afinal, ao surgirmos no mundo precisamos de construir sentidos para tudo ao redor, que vem ao nosso encontro. É aí que nascem junto o PAI, a MÃE, ou qualquer adulto cuidador/educador. 
Mais um equívoco é acreditar que somente quando o bebê, a criança já está crescida, se tornou um adolescente, é que devemos bombardeá-la com informações e valores úteis para o convívio social e familiar (respeito aos 'outros'), para seus cuidados pessoais (por exemplo, no âmbito da sexualidade), para sua formação profissional (dedicação aos estudos, escolha profissional). Existe uma forte tendência cultural, em nossa sociedade, em pretender poupar as crianças de 'sofrimentos' inerentes à sua condição humana. Evitando-lhes dissabores, inconveniências, verdades ''duras'', etc... Mas, como esses jovens vão encontrar utilidade em alguma coisa que nunca lhes fez nenhum sentido existencial?   
Assim vemos que, outro equívoco é considerar esta fase como um 'fenômeno natural' ou universal,  a que todos os seres humanos estão sujeitos. Como se o fato de só ''assistirem'' passivamente ao meio em que convivem fosse o necessário para fazer surgir o jovem ou o adulto que é idealizado pelos cuidadores. A psicologia reconhece a força das imagens que cotidianamente  influenciam e modelam formas de comportamento que pouco a pouco vão minando outras possibilidades de interação dos seres cosigo mesmos e com o mundo.  Interessante   notar que até mesmo os próprios adolescentes quando pesquisados sobre as características de sua fase de vida têm uma visão estereotipada e negativa dos outros adolescentes (vândalos, drogados, rebeldes), mas, ao mesmo tempo, se definem como ‘adolescentes-padrão’ (Alves, C. P., 1997). Mais informações podem ser acessadas no site 'Psicologia On-Line' in: “ TV e Comportamento”, disponível em http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/publicacoes/videos/videos_070802_0173.html.
         Talvez, a suposição da universalidade (=igual pra todo mundo) da adolescência se explique devido à maturação sexual e neurológica ocorrida nos primeiros anos da segunda década de vida. A  puberdade sim, tem um aspecto biológico e universal, caracterizada  pela aquisição de formas, visíveis a cada gênero: o crescimento de pelos (pubianos, axilares ou torácicos), o aumento da massa corporal, desenvolvimento das mamas, evolução do pênis, menstruação, arredondamento das formas femininas, etc. Além disso,  a capacidade de abstração e o pensamento crítico se desenvolvem, possibilitando um maior senso de independência emocional e de auto-conhecimento. Estas mudanças fisiológicas costumam caracterizar a puberdade, que neste caso seria um ato biológico ou da natureza. E é a partir daí que a criança  começa a ter perspectiva de futuro, pois consegue lidar com dados abstratos. A criança resolve seus problemas fantasiando com as perspectivas típicas de sua idade, como ‘quando eu crescer vou ser RICO!', quando alguma impossibilidade material lhe aflige, por exemplo. Na adolescência, essa possibilidade de tornar RICO e ter acesso a todos os bens materiais sonhados, passa pela construção de todo um percurso futuro que se coloca a sua frente e que depende de sua capacidade de interação com a existência.
A adolescência, portanto, seria o papel social do indivíduo humano entre a infância e a idade adulta, quando se sente dotado de novas potencialidades físicas (sexual e intelectual) para o exercício primordial de constituir a si próprio de acordo com suas possibilidades internas (construção da identidade), e, lançar-se nesse ‘’novo’’ mundo, nem sempre tão acolhedor como as fantasias que antes lhe consolavam frente ao 'futuro'.  
É comum que conflitos importantes apareçam durante a construção da identidade do adolescente. Principalmente, se pensarmos nas exigências culturais, cada vez mais abrangentes, pensando-se na diversidade de possibilidades, porém forçosamente distanciadas do mundo possível e humano. Por exemplo, os padrões de beleza,  a  ‘pasteurização’ do comportamento humano,  o conceito de ‘vencedores e perdedores’ ou o de Ter antes do Ser. Aliás, é de se notar que aqueles que se esforçam por realçar as características máximas desses parâmetros por 'status social', destaque no grupo de amigos, etc., se tornam cada vez mais intolerantes com as diferenças e a diversidade ou a pluralidade de escolhas do Ser-no-mundo. O atual conceito de Bullying abrange esse aspecto, vide comentários em http://educacao.uol.com.br/ultnot/2011/03/24/bullying-identifique-se-o-seu-filho-e-vitima-desse-tipo-de-intimidacao.jhtm).  Ou, a 'praga emocional da humanidade', diria Wilhelm Reich, um de meus autores favoritos no âmbito da psicologia social,  ao afirmar que, somos tão massacrados para nos tornarmos ''adultos'' aceitos e valorizados (=vencedores), que acabamos nos tornando intolerantes à tudo que não damos conta de ''cuidar'' em nós mesmos, e que seriam instâncias essenciais da nossa humanidade. 
Por isso é importante que o adolescente descubra sua potencialidade para fazer escolhas pessoais que reflitam realmente a singularidade desse Ser, dentro das perspectivas do si-mesmo e dos significados do mundo ao redor, antes que os modelos oferecidos pela 'modernidade' escondam a criatura humana que quer existir. Já que, ainda se encontram numa fase, onde a consciência de si próprio ainda não se completou em prol de algum papel social definitivo. (A tarefa básica de todos nós!)


 
Além dessa dinâmica na construção de seu SER, o adolescente também precisa confrontar-se com novas questões, relacionadas à sexualidade. Como por exemplo, expressar  sua sexualidade, lidar com sensações sexuais,  conhecer o amor (a conexão com o outro), evitar a gravidez indesejada, as doenças sexualmente transmissíveis e ainda definir papéis sexuais apropriados à sua idade que lhe sirvam de experimentação e sentido para sua personalidade futura. 
Cabe à família e/ou responsáveis pela educação, abrir espaço de manifestação, atuação  e acolhimento das singularidades de seus filhos (comunicação aberta), acostumando-os ao diálogo e respeitando seus pontos-de-vista, ao mesmo tempo que reforçando  crenças, valores e significados familiares (visão de mundo). Portanto, mais do que se engajar numa ''luta'' para formatação de seu filho, há que se confiar na legitimidade da educação introjetada desde seu nascimento, e compreender que o 'conflito' pode ser parte da estruturação desse novo SER. O conflito ou a negação do que já é conhecido pode ser uma manifestação indispensável para o auto-conhecimento e a autonomia, tornando-o suficientemente consciente de si-mesmo e do mundo em que quer participar e compartilhar com os outros. Segundo ainda W. Reich,  educar para a saúde seria uma forma de capacitar o educando para a auto-regulação  e autonomia.
Da mesma forma, em terapia ou em uma orientação psicológica, o psicólogo  ao ouvir o adolescente, vai buscar conhecer e afirmar suas singularidades, a fim de ampliar suas perspectivas de estar-no-mundo, em sua infinita gama de possibilidades de contato com o 'si-mesmo', o meio familiar e social. 
Sabe-se que a influência de fatores psicológicos, sociais e culturais nas doenças, no adoecer e nos conflitos é marcante para o desequilíbrio emocional de qualquer indivíduo. Este tema tem sido amplamente debatido nas diversas áreas da saúde, já que o conceito proposto pela OMS de “um estado de bem estar total, corporal, espiritual e social” é praticamente inalcançável.  Aliás, muito além de conceituar saúde, a lógica da manutenção de um  organismo saudável, vem dando lugar a outra forma de sobrecarga emocional quando o enfoque se estreita cada vez mais na aparência e não no conteúdo. 
Afinal, saúde não é apenas uma questão de não se ter doenças, mas a sabedoria necessária para saber enfrentar  as dificuldades inerentes à existência humana. Ou o cuidado com  ‘si-próprio’ frente às demandas e vicissitudes do mundo. 

MÁRCIA COUTINHO
PSICÓLOGA
SEXÓLOGA
CRP/06 – 81.855


REFERÊNCIAS (para saber mais):

-Ballone, GJ. Depressão na Adolescência. PsiqWeb, Internet,  2004. Disponível em <http://virtualpsy.locaweb.com.br/index.php?art=10&sec=20>. Acesso em: 07/03/2011.

-FRANCÉS, A.L. Breve Histórico sobre Wilhelm Reich. Rede Reichiana, Internet, [s/d]. Disponível em: <http://www.redereich.com/800 x 600/texts/texto_wr_obra.htm>. Acesso em: 11/03/2011.

- BARROS, M.N.S.; CONTINI, M.L.J.; KOLLER, S.H.        Adolescência e Psicologia: Concepções, práticas e reflexões críticas. Brasília: Conselho Federal de Psicologia, 2002. 144p. Disponível em: <http://www.pol.org.br/pol/cms/pol/publicacoes/cartilhas/cartilhas_080114_0189.html>. Acesso em 09/03/2011.

-PACÍFICO, J.M. O olhar de Reich para a educação: o papel da frustração e do desejo. Psicopedagogia OnLine, Internet, 2004. Disponível em: <http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=505>. Acesso em: 12/03/2011.


PsicoTerapia para Adolescentes

A necessidade de expansão além do núcleo familiar, a formação da identidade sexual e a busca por uma identidade própria, que o caracterize no mundo, torna esse período importantíssimo para estruturação do futuro adulto que o jovem espera se tornar. A essa dinâmica pessoal somam-se ‘pressões sociais’ que indicam  caminhos, geralmente baseados em ‘scripts’ e modelagens (comportamentos estereotipados), muitas vezes limitantes das verdadeiras possibilidades individuais. É fundamental que o jovem encontre meios de aliviar a angústia desse momento de forma criativa, que lhe dê suporte, acrescente conteúdo e o propulsione para o aprendizado, o amor e o trabalho.  Temas recorrentes por toda a existência.
É aí que psicoterapia ou a orientação psicológica podem ser uma boa indicação, pois, a partir do vínculo de confiança estabelecido entre o profissional e o jovem, este contato passa a funcionar como um lugar seguro, facilitador e propulsor da dinâmica individual. Servindo  como suporte provisório para  o auto-conhecimento (mundo interno) e  a significação da realidade circundante (mundo externo). Consequentemente, ampliando e criando repertórios singulares, em função da  integração e  comunicação do jovem com o meio familiar, escolar,   e, principal e fundamentalmente, consigo mesmo. Equacionando seus anseios com suas possibilidades, reforçando sua capacidade reflexiva para apreensão e compreensão da realidade, a fim de conferir-lhe certa flexibilidade emocional. Um ‘lugar’ no mundo que o jovem adquirirá para sempre, já que dificuldades e frustrações, assim como satisfações e alegrias, vão também lhe acompanhar ao longo de toda sua existência.

ORIENTAÇÃO A PAIS

Essa forma de atendimento psicológico também poder ser indicada quando os pais não conseguem, por si mesmos, dar conta das próprias angústias frente à imprescindível necessidade de apoio e orientação (sentido) demandada pelo adolescente. Esse tipo de atendimento difere do anterior por enfocar uma dificuldade imediata.

Afinal, o  lugar de PAIS não confere às pessoas o repertório necessário para lidar com dificuldades que na experiência de vida deles próprios se encontram mal resolvidas.
É importante aos educadores terem o escopo de suas limitações e possibilidades, e a busca por orientação psicológica confere a esses responsáveis a possibilidade de aquisição de novos conhecimentos, em prol de si próprios e do ambiente familiar e/ou educacional.




Resumo de Relato Clínico 


Muito pertinente ao que já foi descrito acima, a apresentação de um caso clínico que, na perspectiva de construção da individualidade de um adolescente, desenlaça a comunicação afetiva ou comunicação emocional entre mãe e filho. 
Este relato, como exemplo prático do que foi dito, enriquece os comentários sobre o 'acolhimento familiar' necessário a todas as fases de vida. Além de que, dá dicas de como as dificuldades com o embate cotidiano (luta pela sobrevivência) nos afasta da legitimidade de nossos atos quando nos acostumamos a não comunicar ao ''outro'' o que realmente sentimos ou desejamos.  Falha na comunicação ou comunicação indevida,  é outra armadilha que supomos não existir nos relacionamentos com quem temos proximidade.
Para quem quiser ler o artigo em sua íntegra, é só clicar no link ao final da página.


A linguagem afectiva
Gelci Nogueira (2010)
 




Recentemente chegou-me um paciente com idade acima dos 18 anos, sem um rumo ou qualquer motivação para os estudos ou profissão, cuja queixa principal materna era, a de que ele não obedecia, mentia e andava em más companhias.
Numa sessão individual ele mostrou-se atento, interessado e participativo, concordou e discordou, falou de suas frustrações, seus temores, incertezas e dúvidas e, que por vezes não compreendia a mãe, detestando a forma como ela falava com ele, mas que mesmo assim, gostava da mãe.
Aprofundando sua trajetória de vida, emergiu o seu sofrimento, desde bebé sem a presença do pai, que separou-se da mãe quando ele ainda era criança  e, até tem duas irmãs menores, mas não se falam. E ao lhe perguntar se sentia a falta do pai, suas lágrimas brotaram e seus ressentimentos afloram, num balbuciar: é uma tristeza, libertando a emoção doente aprisionada na revolta, na tristeza e na dor da perda afetiva paterna. E quanto à mãe, sempre fora de casa, tinha que trabalhar, deixando ele com uma ama-babá, ou com a vó, que pelo seu tom de voz, também não lhe é confiável.
Sua relação com a mãe era no grito, na base da crítica e dos castigos, inflingidos pela mãe, ao lhe retirar o acesso ao computador, onde vivia a maior parte de sua vida diária e noturna, isso quando a mãe se deu conta de que ele usava o computador demasiadamente, em jogos. Amigo só tinha um, ainda criticado pela mãe, por pensar que o influenciava negativamente. Teve um breve namoro, mas não fala dessa intimidade com a mãe, não sente confiança em falar de seus sentimentos e preferências pessoais.
Na segunda sessão a mãe se fez presente, ombros frente a frente, numa linguagem de ataque e defesa em tom de voz ríspido, nem um dos dois se escutava ou escutava o outro. Ao focalizar o discurso disfuncional e a forma como cada um se expressava, ambos ficaram se olhando, como se fosse a primeira vez que se viam. Já não havia respeito entre mãe e filho, era ela ou era ele, como se fossem dois adultos raivosos a competirem por algo inalcançável.  A dor emocional de ambos aflorou, a mãe se alterou e levantou, ficando de pé a falar com lágrias nos olhos, até que num gesto de calma e ponderação, refaz-se e senta-se.
A partir dai a narrativa com a escuta fluiu e a linguagem afectiva entre mãe e filho emergiu, um conseguiu ouvir o outro, sem intervir compreendendo os sentimentos feridos e a forma como se auto-defendiam erroneamente; partilharam sentimentos, emoções, tristezas e um compromisso com uma mudança de atitudes, responsabilidades e respeito mútuo.
Enquanto a mãe narrava sua história, seu filho a observava e, eu atenta à conversa da mãe, mas discretamente  à observar a reacção do filho, cuja cabeça maneava e os olhos marejavam. Ele, para defender-se de sua dor emocional, um profundo sentimento de rejeição, cujo bloqueio era sua aversão pelo pai, mas que no fundo queria mesmo era ter o pai presente e ser aceito, desenvolveu uma atitude mental crítica, rígida e verbalmente exigente, sem vontade para nada, nem mesmo para contribuir em casa,  na arrumação de seu quarto. E qualquer  coisa que iniciava perdia logo o estímulo e esquecia-se. Comentou que nas aulas, até sentia-se motivado, mas só no início porque depois de algum tempo distraia-se, no que a mãe intervém e comenta que sempre leu tudo para ele e, por vezes até as tarefas da escola ela fazia para ele.
Perguntei à mãe: mas como é que seu filho irá crescer e sentir-se capaz de tomar iniciativas, se não confias nele,  se não o vê como um jovem que cresceu e virou homem?  No que ela baixa a cabeça e diz: é hoje eu percebo que errei ao fazer tudo por ele.
Perguntei à ele, olhando firmemente em seus olhos: estás disposto a dar um voto de confiança a si mesmo?  Ele, mantendo o contacto ocular, responde: sim, eu seu que posso fazer alguma coisa, só não sei como.  Fechando a conversa, falo: pois todos juntos vamos descobrir, e pedi: quero um abraço, ele prontamente deu-me um abraço e depois a mãe. Eis a minha linguagem afectiva. Resgatar os laços afectivos da linguagem do coração, que são sentimentos de aceitação, acolhimento e elogios.
Penso que nos dias de hoje qualquer família que sentir dificuldade em dialogar acerca de seus sentimentos e emoções, entre  o casal, pais e filhos, devem recorrer a um psicólogo, pois temos as ferramentas psicológicas apropriadas para restaurar harmonia e o diálogo em família, e todos saem ganhando em respeito e amor-próprio.




Disponível em:
http://www.psicologia.com.pt/artigos/ver_opiniao.php?codigo=AOP0269



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