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Simplesmente genial a articulação do conteúdo pesquisado para a matéria publicada pela jornalista Eliane Brum, na Revista Época, de 11/07/2011.
A experiência clínica e o olhar ''psi'' sobre os fenômenos ao redor, observados nas diversas queixas de adolescentes e jovens adultos, têm me apontado para essa mesma dinâmica reconhecida pela jornalista, e que eu me habituei a chamar de 'inteligência incapacitante'. Indivíduos jovens, de raciocínio rápido e fluente, oriundos da classe média tradicional, com uma rica bagagem intelectual e cultural, para quem muitas vezes as limitações emocionais pessoais soam como fracassos, deméritos, ao invés de simples falta de experiência no embate com a vida real. Pois, não sabem o que fazer para continuarem obtendo do mundo o mesmo ''sucesso'' que encontraram no núcleo familiar, bancos escolares e universitários. Suponho que a faixa etária destes jovens vá até algo em torno dos 25 anos e cujas características e conflitos existenciais típicos se encaixam àqueles apresentados pela autora da matéria. Salvo algumas variáveis próprias de histórico pessoal.
Imperdível a leitura deste texto para a compreensão da dinâmica psicológica, que se constrói na realidade dada (mundo conhecido, familiar) como única e absoluta, a despeito de todo 'psicologuês' voltado para o entendimento da subjetividade como entidade que acontece apartada da realidade experienciada, como aquele das teorias universais acerca do Homem. Parecido com o que já comentei sobre a possibilidade de um jovem de uma tribo de pastores africanos , por exemplo, se projetar no futuro como um físico ou astronauta (vide post "Adolescer'' na página sobre adolescentes neste blog). O mesmo acontece com esses jovens de nosso grupamento social que conhecem o mundo pronto para usar. E, desfrutar, é claro!.
Quero dizer, é visível a falta de conexão desta parcela da juventude com o fazer cotidiano e as implicações deste fazer para o desenvolvimento pessoal rumo ao futuro ''programado'', como se as coisas do mundo que vêm ao encontro deles, já tivessem que estar prontas para o simples desfrute deles. Meio aquela sensação de '' é só abrir a embalagem e pronto! '' Não reconhecendo a possibilidade do atrito com a realidade como experiências que irão se constituir como outras manifestações de sua existência no mundo. Reagem impulsivamene quando 'a mercadoria' demanda alguma elaboração a mais, pois o ''trabalho'' decorrente é percebido como perda de tempo. Ou ainda, como uma imensa frustração do tipo consumidor enganado.
Mãos na massa, pessoal !!! Não existem 'brinquedos' que garantam prazer, felicidade e bem-estar depois dos 10/12 anos. |
Tenho pensado muito no assunto e acredito, a princípio, que o hábito de terem recebido desde o nascimento todos os itens necessários para o seu prazer, como se estes existissem somente para agraciá-los, faz com que nem se percebam ''atrofiados'' para gerarem em si mesmos as respostas que, como pais (e simples humanos), não conseguimos mais maquiar ou formular.
Afinal, assim como diz a jornalista, e assim como a psicologia existencial postula, a cada um cabe a responsabilidade de fazer escolhas por si mesmos, tateando o emaranhado de sentidos do mundo a conformação de sua autenticidade. Para isso, há que se ter criatividade, auto-conhecimento e auto-regulação (ou, no popular, jogo de cintura) para fazerem as coisas acontecerem e para que, ao mesmo tempo, aconteçam e existam no mundo. Ou seja, não podemos poupar nossos filhos da humanidade inerente a existência deles. Se fazer é tarefa de todos.
Ou, como disse a amiga que me indicou essa matéria: "Choque de realidade neles!!!" Para que consigamos acordar deste sonho tão irreal e fazer a vida acontecer com as pessoas e coisas que estão aí, a nossa volta.
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