Parte II: Psicoterapia - aprendendo a se cuidar e a escolher
Já conseguiram compreender a dimensão (tempo-espaço) dos encontros psicoterapêuticos? Encontraram um prazo específico para prever de antemão o fim do acompanhamento clínico psicológico?
Para maiores esclarecimentos sobre o funcionamento prático/teórico deste acompanhamento, aí segue a segunda parte das considerações necessárias.
A prática da psicoterapia funciona como uma ‘escuta técnica’ para as questões existenciais (fenômenos) que permeiam a vida de qualquer pessoa. Questões que ganham significados próprios nos múltiplos entrelaçamentos de redes neuronais, os quais dão substância à mente humana. E, como esses fenômenos não existem por uma única causa e não podem ser vistos a olho nu, as respostas dadas pela Psicologia também podem ter diversas interpretações que, a grosso modo, respondem à forma de como foram observados. É só lembrar da fábula dos cegos e do elefante, onde cada cego ao tatear um elefante dava sua própria impressão do que era o ‘bicho desconhecido’, baseando-se somente na parte tocada (disponível em http://gpintg.blogspot.com/2010/02/fabula-indiana-dos-cegos-e-o-elefante.html).
Assim também acontece com a tão divulgada ‘terapia do divã’, chamada de Psicanálise, fruto do pioneirismo e esforço de Sigmund Freud (lê-se FRÓIDE), em pesquisar, sistematizar e divulgar sua T E O R I A sobre o funcionamento do psiquismo humano, desde o fim do século XIX.
Acentuo a palavra ‘teoria’ para esclarecer que o termo se refere a uma explicação dada a um determinado fenômeno que não pode ser replicado ( ou comprovado) por experiência científica, mas que apresenta em seu conteúdo consistência lógica justificável, mesmo que utilizando de metodologia científica para sua constatação.
É só lembrar da Teoria da Evolução de Darwin, aquela que pressupõe que o ancestral do Homem é o macaco. Darwin, a partir de anos de estudos e observações, montou um quebra-cabeças bastante consistente com o que foi observado em suas pesquisas, pois, não tinha como apresentar evidências científicas para respaldar suas conclusões (ou hipóteses). Daí o “título” Teoria, que diferentemente do termo ‘LEI’ (a Lei da Gravidade, por exemplo), não tem condições de apresentar evidências objetivas necessárias que possibilitem a tal ‘prova científica’ (=replicação do experimento) a fim de que suas premissas sejam indefinidamente replicadas e, por isso, comprovadas cientificamente (no sentido bem restrito de seus métodos).
Nas Ciências Humanas (estudos sobre as diversas facetas do existir humano), como já visto, a diversidade de perspectivas, qualidades, características, comportamentos, etc., passíveis de observação e estudo é muito variada. Por isso, a difícil padronização de métodos frente as diversas possibilidades de interpretação de um mesmo fenômeno. Tema de muitas discussões no meio científico, fazendo com que alguns estudiosos da ciência (‘científica’ ao pé da letra) questionem a utilização do termo “Ciências” para o estudo dos fenômenos da humanidade. (Segundo o célebre físico, Stephen Hawking, no livro “Uma breve história do tempo”, “não importa quantas vezes os resultados das experiências estejam de acordo com algumas teorias, não se pode ter a certeza de que na próxima vez o resultado não irá contradizê-las. (ou seja)… você pode refutar uma teoria por encontrar uma única observação que não concorde com as suas previsões" (http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria).
Dadas essas explicações, chego de novo à teoria psicanalítica de Freud (a do divã), a mais difundida dentre todas as outras ‘linhas’ (=teorias psicológicas) que tentam dar alívio ao sofrimento psíquico do ser-humano. Retorno a esse ponto, a fim de elucidar que a proposta de intervenção clínica (=prática terapêutica) da psicanálise é apenas mais uma entre tantas: como a fenomenológica-existencial, a analítica junguiana, a comportamental, a cognitivo-comportamental, as diversas abordagens corporais, algumas com base psicanalítica, outras junguianas, outras fenomenológicas, etc.. E, assim, trazer compreensão de como o “olhar’’ e perspectiva do pesquisador influenciam na sua teorização.
Freud, observando as manifestações psíquicas de seus pacientes e utilizando-se de um pensamento racional brilhante e metodologia científica desenvolveu sua teoria da mente a partir de observações clínicas consistentemente organizadas. Foi desta forma que tentou dar ao conceito de INCONSCIENTE um status científico (não compartilhado por várias áreas da ciência e da psicologia), considerado, na época, revolucionário para o entendimento do funcionamento do psiquismo humano e, consequentemente, do comportamento humano frente às variáveis da existência. Lembrando que esses conhecimentos sobre o funcionamento psíquico humano, basearam-se no caldo cultural do período final do século XIX, e primórdios do século XX. Ou seja, tinha como objeto de investigação, um ser humano adaptado às conformações culturais e sociais de um tempo e espaço muito específicos da sociedade européia burguesa e intelectualizada (alguns ainda salientam a característica moralista desta fase). Bem diversa da realidade humana que sobrevive e se adapta às diversidades cotidianas no meio familiar, ambiental e social, de todo o resto do planeta (http://fundamentosfreud.vilabol.uol.com.br/biografia.html).
É óbvio que o fato dessas Teorias, não possuírem o reconhecimento unânime da comunidade científica, não desmerece em nada a genialidade de seus autores e de suas constatações. A grosso modo, é como se cada um apresentasse um pedaço do joguinho de quebra-cabeça, que pode ser considerado como a visão do psiquismo humano em sua totalidade. O que dever ser esclarecido é que como essas teorias acerca do homem foram construídas “tateando’’ o ‘bicho desconhecido’, apesar do brilhantismo de seus conteúdos, não há como se tomar essas constatações como absoluta e única verdade para descrição isolada dos fenômenos investigados por elas. Pelo menos, no que tange à ciência chamada de Psicologia, pode-se dizer que a Psicanálise, assim como tantas outras teorias psicológicas, descrevem UMA POSSIBILIDADE de explicação para os fenômenos do psiquismo humano, de acordo com a lógica utilizada para construir (ou idealizar) a realidade e o funcionamento humano dentro dela.
Neste sentido é que os fundamentos da fenomenologia foram considerados como uma nova possibilidade de compreensão do comportamento humano. Retirando, a princípio, os postulados teóricos cientificistas que poderiam encaixar qualquer manifestação humana dentro da perspectiva de quem os formulou. E não de quem sente e significa sua própria existência. Um exemplo das possíveis limitações de uma pessoa se encaixar em alguma teoria, é dado por aqueles que se apresentam com seus diagnósticos até mesmo num encontro informal, quando descobrem minha profissão. Tipo “sou bi-polar”, como se a descrição dos sintomas ‘cienticamente estudados’ da bi-polaridade fosse o único sentido dado por aquela pessoa a sua existência, e ponto final. Fenomenologicamente pensando, pode ser até que essas pessoas realmente se satisfaçam com isso, pois parece que encontraram um solo familiar na existência da onde podem se expressar e interagir satisfatoriamente com os outros e o mundo. No limite da interpretação possível para o caso, quem ela é ou pode vir a ser, fica a cargo da teoria e não das escolhas pessoais possíveis, que podem ser suscitadas com a psicoterapia que dê suporte para isso.
Enfim, como esse ‘bicho desconhecido’ chamado ‘mente humana’ é o resultado de infinitas possibilidades de interações neuronais, não há como se comprovar cientificamente sua localização ou ainda esquematizar seu funcionamento de forma absoluta.
O importante é que quando em busca de um ‘tratamento psicológico’ se entenda que a Psicologia ou a “linha” de compreensão psicológica oferecida, no sentido de uma única explicação para o funcionamento humano, não existe. Existem sim, as várias abordagens psicológicas que tentam, de acordo com a perspectiva de seus autores, explicar o funcionamento humano no mundo e a realidade que o cerca. (http://pt.scribd.com/doc/7345630/Ana-Maria-Bock-A-Psicologia-e-as-Psicologias-Doc-Rev). Assim como o exemplo demonstrado anteriormente, cabe a cada interessado no seu desenvolvimento pessoal, encontrar a abordagem que melhor se enquadre em seu próprio sistema de crenças e possibilidades existenciais, para que a tarefa de encontrar o ‘si-mesmo’ (autenticidade) tenha a empatia necessária com o que lhe será comunicado pelo terapeuta (--> sentido, significado).
Por quanto tempo fazer terapia? Quantas vezes por semana? Qual é o valor do investimento?
Conforme já apresentado acima, o tempo do acompanhamento psicológico dependerá da ‘abertura’ de cada pessoa para (re-)significar as velhas e as novas possibilidades com a vida. De acordo com sua história, o psicólogo, funcionando como um facilitador entre o 'conhecido' e o porvir, possibilita ao paciente conscientizar-se sobre suas limitações e possibilidades individuais (abertura) e, desta forma, fomenta alterações nos padrões de comportamento, pensamentos, convicções e emoções.
Portanto, cada profissional terá a competência necessária para sugerir o número de encontros semanais, horários e valores, estes últimos podendo ser negociáveis. Tudo deve ser conversado desde o primeiro encontro. A duração da sessão é de 50 min, para atendimentos individuais, as quais ocorrem com a frequência mínima de 1 encontro semanal. Também são feitos acordos sobre faltas, reposições de horário, férias, atrasos, quando também deve ser estipulado um prazo hábil para que as sejam sessões desmarcadas sem nenhum ônus para ambos.
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